Geografias do drama humano: leituras do espaço em São Bernardo, de Graciliano Ramos, e Pedro Páramo, de Juan Rulfo, é a sexta obra apresentada neste blog, das 200 obras disponibilizadas pela Rede SciELO Livros, com o objetivo de maximizar a visibilidade, acessibilidade, uso e impacto de pesquisas, ensaios e estudos. O portal visa à publicação on-line de coleções nacionais e temáticas de livros acadêmicos, disponível no endereço http://livros.scielo.org.
Autora: Gracielle Marques – Editora UNESP – 2010
Sinopse: Este livro analisa o processo de construção do espaço que permeia os romances São Bernardo (1934), do escritor brasileiro Graciliano Ramos (1892-1953), e Pedro Páramo (1955), escrito pelo mexicano Juan Rulfo (1918-1986), explicitando as analogias e os contrastes entre as duas obras, a partir da percepção de que ambas projetam, no processo de construção do espaço, lugares que revelam conflitos sociais, psicológicos e existenciais do homem em confronto com sua origem e seu destino. Com esse pressuposto, o livro investiga a relação íntima e direta do espaço com as personagens, as consequências da particularização do espaço pela violência, as paisagens que refletem a solidão, a incomunicabilidade e o desamor presentes no universo poético de ambos os romances desses dois grandes expoentes da literatura latino-americana. O livro demonstra que ambas as obras retratam a complexidade das sociedades da América Latina, simbolizadas num espaço rural emblemático que expressa, em perspectiva poética e sem caráter documental, diversas facetas da realidade.
Segundo a autora, “O mexicano Juan Rulfo (1918-1986) e o brasileiro Graciliano Ramos (1892-1953) são representantes de uma escrita que não toma a paisagem como um elemento estático e neutro. Ao contrário, a geografia física se constitui como espaços que refletem e determinam os conflitos da existência humana, uma vez que são interiorizados e se relacionam de maneira dinâmica com a subjetividade das personagens.” Vejam alguns versos:
Lá fora há uma treva dos diabos,
um grande silêncio. Entretanto o luar
entra por uma janela fechada e o nordeste furioso espalha folhas secas no
chão. ( Graciliano Ramos, 1986, p.188)
Porque tinha medo das noites que
enchiam a escuridão de fantasmas. De
encerrar-se com seus fantasmas. Disso
tinha medo. (Juan Rulfo, 2004, p.173)
Quer ler mais, clique AQUI, e tenha acesso a obra completa. Excelente passeio.
Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras eram apenas
palavras, reprodução imperfeita de fatos
exteriores, e as dela tinham alguma coisa
que não consigo exprimir. Para senti-las
melhor, eu apagava as luzes, deixava que
a sombra nos envolvesse até fi carmos dois
vultos indistintos na escuridão.(Graciliano Ramos, 1986, p.102)
– Susana – disse. Depois fechou os
olhos. – Eu pedi que você voltasse…
…Havia uma lua grande no meio do
mundo. Eu perdia meus olhos olhando
você. Os raios da lua fi ltrando-se sobre
a sua cara. Não me cansava de ver essa
aparição que era você.
(Juan Rulfo, 2004, p.172)
Regina Maria Faria Gomes. Psicóloga- CRP 29086/6